
Sempre me perguntei qual seria a utilidade daquele alto (proa de Bolbo) que se vê na proa de alguns navios, mas nunca tomei a iniciativa de ir ver a função deles até este ano, em que me deram a possibilidade de desenvolver este tema em resistência estrutural e dinâmica do navio.
Pensa-se que esta tenha sido inventada em meados do séc. XIX para navios de guerra. No entanto a ideia foi registada como sendo de David W. Taylor, que foi arquiteto naval durante a primeira guerra mundial.
Para que serve a proa de Bolbo?
A proa de bolbo modifica a forma como a onda passa pelo casco, rompendo a tensão da agua e diminuindo a resistência que esta oferece à passagem do navio. Aumenta também a velocidade e consequentemente a sua eficiência.
Isto é verdade quando o navio navega para vante e a velocidades elevadas. Se a velocidade for reduzida, a resistência da água aumenta o que faz com que a resistência total do navio também aumente.
Como funciona?
Quando o navio navega para vante, gera um sistema de ondas, que pode ser influenciado através do bolbo.
Na imagem podemos ver a comparação entre a onda criada por uma proa direita, a onda criada pelo bolbo e a combinação de ambas.
Ou seja, a proa de bolbo reduz a onda que entra no casco do navio.
Vantagens da proa de bolbo:
• Aumenta a velocidade do navio, e reduz o consumo de combustível;
• Funciona como um “para-choques” em caso de abalroamento;
• Reduz a onda de proa, tornando o navio mais eficiente em termos energéticos (entre 12 a 15% comparado com outros navios);
• Torna o impulsor de proa mais eficiente (é instalado mais a vante);
• Reduz o pitching (movimento que o navio faz para cima e para baixo, devido a ondulação).
Desvantagens da proa de bolbo:
• Aumenta a resistência do navio em velocidades reduzidas;
• Só é favorável para o movimento para vante;
• Alguns autores afirmam que é mais perigosa em mau tempo, contudo não existem provas concretas.
A proa de Bolbo, apesar de ser uma parte pequena no navio, desempenha um papel bastante importante no designe do navio e na sua respetiva rentabilidade.
Espero que tenham gostado desta pequena curiosidade e se quiserem partilhar algo, deixem o vosso comentário aqui no blog 😉
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Gráfico retirado de: theseahuman.com
Atualização (Curiosidades enviadas por leitores):
Gonçalo Cruzeiro: “ha relatos que as proas de bolbo foram primeiramente usadas pelos navios vikings (era uma forma de o navio deles abalroar e afundar navios inimigos)”
JP Pedro: ” Em gíria naval a proa de bolbo é chamada de Tira Bigodes“
O bolbo não foi inventado foi descoberto. Antes de 1900 quando se procedia a testes com navios de guerra nos EUA, verificou-se que o esporão ou ariete do navio diminuía a resistência do navio à marcha a vante. Também se verificou que os tubos lança torpedos , das lanchas torpedeiras, montados à proa, abaixo da linha de água a resistência diminuía. O primeiro bolbo foi montado em 1912 no navio da Marinha EUA, baseado num desenho de David Taylor. Só em 1929 foi montado um bolbo num navio civil. Os primeiros navios a montarem bolbos, na Europa foram o “Bremen” e “Europa” da Noorddeutscher Lloyd de Bremen. Só a partir de 1950 é que os navios mercantes começaram a usar bolbos. O primeiro navio tanque a usar bolbo ocorreu em 1957, projectado por Herbert Schneekluth.
O pitching em Português designa-se por caturrar. Os antigos navios de guerra não usavam bolbo usavam esporão ou ariete que servia para abalroar os navios inimigos e afundá-los. Há vários autores que escreveram sobre este assunto nomeadamente: Hahnel & Labes,Echert & Sharma, Hoyle e Jensen et al.
Saudações náuticas, unidos pelo Mar,
Joaquim B. Saltão
Muito Obrigada
Adoro aprender estas curiosidades, agradeço sempre que os meus leitores partilhem os seus conhecimentos comigo.
É umas das razões para ter o blog!
Bons ventos e Boas marés! 😉
Perdão senhores peritos, mas tenho a certeza de q a PROA DE BOLBO aparaceu em forma de “esporão” em diversas belonaves pesadas no final do último quartel do século XIX e pra constatarem isto basta verificarem projetos, gravuras e fotos dos navios de guerra pré-Grande Guerra, depois da qual essa tecnica foi abandonada, até resurgir já na decada de 1960 em navios civis. Os militares só voltaram a essa prática posteriormente porém, de modo relativamente limitado às grandes belonaves, como os porta-aviões etc…!